sábado, 3 de julho de 2010

"Do governo dos Vivos"

QUARTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2010

a propósito do lançamento de excertos: "Do governo dos Vivos"

Há poucos minutos, lia a apresentação de Nildo Avelino à sua recentemente lançada tradução de excertos do curso de Michel Foucault no Collège de France (1979-1980), Do governo dos Vivos, que segundo o autor da apresentação, é um esforço de Foucault em torno da história genealógica da racionalidade direcionada para a produção da obediência. Nesta apresentação há uma clareza muito grande e uma evidência especial atribuída à ainda mal entendida na academia, governamentalidade. Clareza na expressão: um inconveniente levou Foucault para análises em um novo contexto, através do qual reorganizou o problema do poder. Mas onde estava esta ambiguidade: no próprio uso da palavra 'poder'. Inconveniente de situar o poder em dois momentos: jurídico relativo à soberania e normalizador relativo à disciplina. A análise das múltiplas operações dos mecanismos de poder e da dominação havia levado a conclusões extremistas (não de Foucault, é claro) do modelo repressivo do poder. Na década de 1970, Foucault não produziria nada sequer, sobre a prática governamental, sobre os detalhes de como o governo se efetuava, ou como governava. Mas aparecia em seus cursos, um novo percurso, um novo problema: como se 'pensa', como se organiza conteúdos intelectuais sobre a melhor maneira de governar. Inflexão Foucaultiana para a racionalização da prática governamental. Bom, é aqui que está a situação em que este texto atualiza o meu trabalho. Por que? Pesquisar à maneira da análise da governamentalidade ainda é fazer genealogia, decerto (Na realidade, veremos que se trataria mais de anarqueologia, como o próprio Foucault apresenta). E quando fazemos isso, tendo em vista o problema da segurança, como analisamos? À maneira do governo. Não se trata da segurança real, dos aparelhos, dos funcionamentos, do modus operandi. Mas da racionalização em torno da segurança. Ou, como se governa de um modo particular, pela segurança. Eu arriscaria sugerir ao Nildo que talvez Foucault tenha enfatizado a importância da racionalidade do contrato social como ponto de clivagem para a racionalidade moderna, porque essa racionalidade expressa a reivindicação em torno da segurança do sujeito em sua relação 'consigo', autoregulado. Segurança, tecnologias de si e governamentalização estabelecem uma relação de proximidade.
Edson Lopes
Autor de Política e Segurança Pública: uma vontade de sujeição (Rio de Janeiro: Contraponto, 2009).

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