segunda-feira, 7 de março de 2011

"País não está pronto para erradicar miséria", diz especialista

Renato Dagnino diz que Brasil não tem conhecimento tecnológico e científico adequado e critica falta de integração com políticas sociais

Marcio Lima/Folhapress
Renato Dagnino, professor da Unicamp, em sua casa 

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO 

O Brasil não está pronto para erradicar a miséria nem para absorver a chamada nova classe média, avalia Renato Dagnino, professor titular no Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp.
De acordo com ele, falta ao país o conhecimento tecnológico e científico adequado para a inclusão social ocorrer de forma sustentável social e ambientalmente. Por outro lado, Dagnino vê na erradicação da miséria uma "oportunidade de ouro" para repensar o tipo de conhecimento produzido no país.
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha

 

Folha - As políticas sociais do governo se articulam com as de ciência e tecnologia? 
Renato Dagnino -
 No mundo inteiro, a pesquisa feita na universidade é direcionada para o interesse das empresas. Muito pouco atende aos interesses do Estado.
Se olharmos para as demandas que têm a ver com o projeto de erradicação da miséria, veremos uma carência enorme de conhecimento técnico-científico.
Entre outras razões, porque as necessidades básicas das populações nos países desenvolvidos foram atendidas há muito tempo.
Hoje, a expansão da fronteira do conhecimento está conectada ao interesse das pessoas de mais alta renda.
Esse conhecimento de que necessitamos não existe, temos que produzir, com soluções tecnicamente perfeitas, ou as melhores possíveis, além de social e ambientalmente adequadas.

Como seria possível fazer a integração entre as políticas? 
É possível utilizar o poder de compra do Estado de uma forma mais coerente com a ideia de inclusão social.
A latinha de alumínio é um exemplo. Por que não podemos transformar a latinha em esquadria de alumínio com uma tecnologia social, completando a cadeia da janela de alumínio com a economia solidária?
O Minha Casa, Minha Vida poderia ser usado de outra forma. Quase todos os recursos vão para empreiteiras, quando uma parte grande poderia ir para mutirões.

Há alguma diferença entre os governos FHC, Lula e Dilma no que diz respeito às políticas de ciência e tecnologia? 
Não. Na verdade, o que os dados disponíveis mostram é que vem diminuindo o gasto percentual das empresas em pesquisa e desenvolvimento.
Isso é totalmente esperado. É uma questão estrutural. Existem três bons negócios com tecnologia: roubar, copiar ou comprar. Desenvolver, só em último caso.

E qual é a solução? 
No caso brasileiro, não tem solução. Costuma-se dizer que o empresário brasileiro é "atrasado". Ora, se tem empresário competente no mundo, é o brasileiro. Basta ver o dinheiro que ganha.
Agora, o processo de erradicação da miséria é uma oportunidade de ouro. Esse processo desvela enorme demanda reprimida por conhecimento. E não só conhecimento desincorporado, mas incorporado em bens, serviços, capacidade produtiva.
Para fazer um país onde caiba todo o povo brasileiro, é preciso construir outro país do tamanho do que já existe.
Não dá para fazer sem planejar. Está na hora de pensar esse processo de construção do Brasil que a gente quer, e isso não está sendo feito.

Quanto dessa situação se deve ao atual momento social e econômico do país? 
Essa situação existe há muito tempo, mas, na medida em que há um dado novo, e esse dado exige expansão da capacidade produtiva, é hora de inovar com qualidade, e não fazer simples aumento quantitativo. Quando se dobra a capacidade produtiva, o impacto indesejável pode até quintuplicar.

O país está pronto para erradicar a miséria? 
Do ponto de vista cognitivo, do ponto de vista de conhecimento científico-tecnológico, o país não está pronto de jeito nenhum.

E para absorver a chamada nova classe média?
Também não. Esse processo terá consequências ambientais e sociais. Acaba desfazendo de um lado o que faz do outro. Os programas compensatórios, como o Bolsa Família, são um caso típico.
Sem gerar oportunidade de trabalho e renda para essas pessoas, não se está fazendo muita coisa.

FOLHA.com
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folha.com.br/po884966

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Acervo de Gilberto Freyre é digitalizado

Milhares de imagens captadas durante as pesquisas do antropólogo estarão disponíveis na rede a partir de maio

Projeto financiado pelo MinC e coordenado pela Fundação Gilberto Freyre tem registros de viagens à África e à Ásia

MARCELO BORTOLOTI
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE 

O escritor e antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987) era um homem de pouco traquejo com a tecnologia. Só escrevia textos à mão, nunca aprendeu a datilografar e nem sequer manejava um telefone. Pelo que se tem registro, jamais usou uma câmera fotográfica.
Isso não o impediu de produzir uma obra extensa, datilografada por terceiros, e de reunir uma farta coleção de fotografias, composta por mais de 17 mil imagens.
São registros de viagens ao exterior, de momentos com amigos, familiares e, sobretudo, de situações sociais usadas como base em suas pesquisas e textos.
Elas foram feitas por pessoas ligadas ao escritor, como o irmão, Ulysses, e o filho, Fernando, doadas a Freyre ao longo dos anos.
A partir de maio, essas imagens estarão disponíveis na internet, no site da Fundação Gilberto Freyre (www. fgf.org.br). O projeto de catalogação e digitalização começou em 2009. Custou R$ 250 mil, bancado pelo Ministério da Cultura.
No escritório onde Freyre trabalhava, até hoje preservado no museu da fundação, em Recife, pilhas de papéis com manuscritos, fotografias e recortes de jornal ficavam espalhados pelo chão.
Cada montanha dizia respeito a um projeto ao qual o escritor se dedicou. "Ele não seguia regras; não costumava usar as mesmas fontes dos acadêmicos. Eram critérios muito pessoais", diz Sônia Freyre Pimentel, filha do antropólogo.
Além das imagens utilizadas na pesquisa do livro "Casa Grande & Senzala", o acervo tem registros da expedição que Freyre fez, na década de 1950, às colônias portuguesas da África e Ásia. As fotos, tiradas sob sua orientação, seriam usadas posteriormente no livro "Aventura e Rotina", de 1953.
A maioria das imagens é inédita; algumas não foram identificadas por falta de referência. A ideia, segundo Jamille Barbosa, coordenadora do projeto, é que o trabalho seja colaborativo: "Vamos disponibilizar tudo, para que os pesquisadores ajudem no processo de descrição".

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Maestro interrompe concerto e faz denúncia de censura no Municipal

DE SÃO PAULO - "Dentro do Teatro Municipal existe uma ditadura", declarou o maestro Marcelo Ghelfi durante discurso de quase oito minutos que interrompeu o concerto que realizava com a Sinfônica Municipal, no Sesc Pinheiros, na noite de quinta-feira (3).
Ghelfi disse que os músicos da orquestra estão proibidos de falar com a imprensa: "Eles estão com contratos renovados a cada três meses e são ameaçados: se abrir a boca, não renova o contrato".
O discurso foi recebido por aplausos do público.
"Não estou contando isso para defender o maestro Alex Klein", disse, citando o ex-diretor artístico da orquestra. Klein chamou Ghelfi em outubro para a série de concertos Municipops, que incluiu o evento de quinta-feira.
"Hoje termino minha relação com o Teatro Municipal. Agora ela se dá em outras esferas por intermédio do meu advogado, que, aliás, está aqui", finalizou Ghelfi.
Em fevereiro, Klein deixou o cargo alegando não ter sido consultado sobre alterações na programação da sala. Foi substituído por Abel Rocha.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultura não foi encontrada ontem para comentar o caso.

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