sábado, 16 de julho de 2011

Folha de S.Paulo - Filme de Flavia Castro emociona franceses - 16/07/2011

Folha de S.Paulo - Filme de Flavia Castro emociona franceses - 16/07/2011
"Diário de uma Busca" documenta tentativa da diretora de elucidar morte do pai, Celso, assassinado em 1984

Militância trotskista do protagonista guia longa pelo universo da resistência contra a ditadura brasileira

"Diário de uma Busca"

Filme de Flavia Castro emociona franceses

"Diário de uma Busca" documenta tentativa da diretora de elucidar morte do pai, Celso, assassinado em 1984

Militância trotskista do protagonista guia longa pelo universo da resistência contra a ditadura brasileira

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS 

Lançado em Paris com a presença da autora, o filme franco-brasileiro "Lettres et Révolutions" ("Diário de uma Busca", no Brasil), de Flavia Castro, entusiasmou o público e a crítica franceses.
O filme é um mergulho na história pessoal da diretora, que o realizou para entender as condições obscuras da morte de seu pai.
Celso Castro foi encontrado morto em 1984, em Porto Alegre, na casa de um alemão suspeito de fazer parte de uma rede de ex-nazistas.
"Diário de uma Busca" será exibido no MoMA de Nova York, numa colaboração com o Festival Internacional do Rio, nos dias 17 e 25 de julho, na mostra "Première Brazil", com a presença da diretora. No Brasil, o longa entra em cartaz em 26 de agosto.
O ponto de partida de Flavia Castro é a história de seus pais, militantes trotskistas.
Por meio de cartas de Celso, ela conduz o espectador à realidade da clandestinidade, da militância dos jovens que faziam a luta armada no turbilhão da grande história: o Brasil, a Argentina e o Chile dos anos 60 e 70.
Paris é a última etapa antes da anistia de 1979, da volta ao Brasil e do drama da morte do pai, em circunstâncias que o filme se presta a tentar elucidar.
"A anistia era muito criticada pela esquerda brasileira, representava uma derrota de todo um projeto político", comenta Flavia.
O filme foi aplaudido pela exigente crítica francesa. "Com sensibilidade, sobriedade e muita inteligência, o filme é profundamente emocionante", escreveu o diário "Le Monde".
A descolada revista "Les Inrockuptibles" enfatiza "a capacidade da diretora de misturar com talento relato autobiográfico, rememorações e reencontros de família, arquivos e investigação quase policial".
"Essa busca da verdade é ainda mais emocionante por conduzir a um impasse, a morte de Celso, misteriosa para sempre", afirma a revista "Télérama".
"Cresci ouvindo falar na revolução. Tenho um imenso respeito pelas lutas da geração de meus pais. Sou fruto dela. Vivi metade da minha vida na França, meus filhos nasceram aqui", diz a diretora, que voltou ao Brasil em 1979 com os pais, mas retornou à França, onde morou até o ano 2000.

REUNIÕES
Flavia Castro debateu em Paris com um público interessado na história da luta armada. "Cresci no meio de adultos que faziam "reuniões" e é por isso que tenho horror a reuniões. Mas sou sensível às questões sociais, sobretudo no Brasil", diz.
"Infelizmente, o Brasil está atrasado em relação à Argentina, ao Chile e ao Uruguai. Não conseguimos enfrentar nosso passado e fazer o luto dos nossos mortos."
No debate estava o trotskista Alain Krivine, 70, figura mítica da extrema esquerda francesa.
Entusiasmado com o filme, Krivine, que conheceu os pais de Flavia no exílio parisiense, vê nele "uma magnífica homenagem a um combate que continua hoje de outras formas".

RECONHECIMENTO
"Diário de uma Busca" foi mostrado em diversos festivais internacionais e já acumula prêmios. No Festival de Gramado, ganhou o Prêmio da Crítica de melhor filme, além do Prêmio do Júri dos Estudantes, também de melhor filme.
No Festival Internacional do Rio, ganhou o prêmio de melhor documentário. No Festival Internacional de Punta del Este, ganhou o prêmio de melhor filme (concorrendo com ficções, entre as quais "Tropa de Elite 2") e, no Festival da América Latina de Biarritz, ganhou o prêmio de melhor documentário.
No festival da Argentina, a diretora conheceu antigos militantes políticos e seus filhos: "Foi emocionante. Pela primeira vez encontrei pessoas da minha geração, de outro país, que tinham vivido o mesmo que eu vivi".
No debate parisiense, um francês que fora membro do Comité de Solidarité France-Brésil, que ajudava os exilados, agradeceu à cineasta pelo filme que o ajudou "a conhecer melhor o problema político que levou milhares de pessoas a se exilarem na França nos anos 60 e 70".

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