quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Rua 'some' para beneficiar Igreja Mundial

Câmara Municipal aprova projeto que tira do mapa uma via prevista no local onde igreja ergue templo sem alvará

Projeto do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que ainda precisa ser votado novamente, atende a acordo político

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO

Uma rua vai "sumir" para permitir a construção de um templo da Igreja Mundial do Poder de Deus em Santo Amaro, zona sul de São Paulo.

A rua está prevista desde 1988 no plano viário da região, mas nunca foi construída. No lugar, a Igreja Mundial está fazendo um templo.

Ontem, a Câmara Municipal aprovou em primeiro turno um projeto do prefeito Gilberto Kassab (PSD) que muda o planejamento viário para que a rua deixe de existir.

Isso dá segurança jurídica à Igreja Mundial de que não corre mais o risco de ter parte de seu templo desapropriado no futuro para o prolongamento de 135 metros da rua Bruges até a rua Benedito Fernandes, a meio quarteirão da marginal Pinheiros.

O projeto, caso seja aprovado em segundo turno -a votação está prevista para a próxima semana-, abre brecha para que a Secretaria da Habitação emita o alvará de construção do templo.

A obra, que já tem ao menos dois anos, está sendo feita sem licença da prefeitura por omissão da fiscalização.

Apenas um vereador votou contra o projeto ontem: Aurélio Miguel (PR). Foram 31 votos favoráveis. A bancada do PT, que estava na sessão, decidiu não votar.

Nos corredores da Câmara, o tema era tratado como "o projeto do José Olímpio".

Olímpio (PP) era vereador até o ano passado, quando renunciou para assumir uma cadeira de deputado federal.

Líder da Igreja Mundial, ele votou em José Police Neto (PSD) para presidente da Câmara em 2010. Em troca, negociou com Kassab a liberação da obra da igreja.

A prefeitura não adotou nenhuma medida de fiscalização para impedir que a obra avançasse, mas a igreja ainda cobrava a regularização do empreendimento.

Ontem, vereadores governistas -inclusive do PSDB- apostavam que, com a aprovação do projeto e a iminente regularização da obra, o apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial, vai anunciar o apoio a José Serra (PSDB), candidato de Kassab à prefeitura.

RUA DESNECESSÁRIA

Na justificativa do projeto encaminhada à Câmara, Kassab argumenta que não há mais necessidade do prolongamento da rua Bruges.

"As intervenções promovidas no sistema viário ao longo desses anos já atendem, de maneira satisfatória, as necessidades de tráfego na região", diz um trecho da justificativa do projeto.

A mudança na lei, acrescenta a prefeitura, não causará prejuízo aos vizinhos, que têm acesso ao local pela rua Benedito Fernandes, evitará o gasto com uma rua desnecessária e permitirá a regularização da situação dos lotes afetados pela lei.

Folha procurou a Igreja Mundial no início da noite de ontem, após a votação do projeto, mas não conseguiu contato com nenhum dirigente.

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

REVISTA POLÍTICA & TRABALHO

REVISTA POLÍTICA & TRABALHO:

Dossiê Estudos Anarquistas Contemporâneos


'via Blog this'

legalização da maconha pode ajudar a salvar economia americana

O jornalista americano Doug Fine não está chapado, apesar do nome de seu terceiro livro investigativo, "Too High to Fail -- Cannabis and the New Green Economic Revolution" (ed. Penguim/Gotham; numa tradução livre, "Muito Chapado para Fracassar -- Cannabis e a Nova Revolução Econômica Verde).

Ele acredita que a legalização da maconha possa ajudar a salvar a economia dos EUA e, para provar sua tese, passou um ano numa comunidade rural que tem, na droga, 80% de sua economia, ou US$ 8 bilhões por ano.

Autoridades locais apoiam e protegem os plantadores com um programa de licença inédito, que cobra pelo registro de até 99 plantas.

Esse lugar, acreditem, fica no próprio EUA, ao norte da Califórnia, no condado de Mendocino, onde Fine acompanha o ciclo de uma plantação, da semente geneticamente modificada à droga final nas mãos dos pacientes.

O livro é lançado no momento em que três Estados americanos se preparam para votar, nas eleições de novembro, pela legalização do uso recreativo para adultos.

Ao mesmo tempo, o governo federal continua a considerá-la uma droga ilegal, sem valor medicinal e altamente viciadora, liderando uma guerra contra os 17 Estados que liberaram a planta para fins médicos.

Segundo um professor de economia de Harvard, entrevistado no livro, a droga poderia ter rendido aos cofres do governo US$ 6,2 bilhões em impostos em 2011 e, após sua legalização, esse número poderia subir para US$ 47 bilhões. Leia entrevista.

*

Folha - O que há de tão especial em Mendocino que fez ser possível essa relação quase utópica com maconha?
Doug Fine - O clima ajuda. É um condado que vive de agricultura, com um clima mediterrâneo, tem uvas por todos os lados. Mas é também um lugar bem progressista. Foi o primeiro condado dos EUA a banir o uso de transgênicos por voto popular.
São três gerações que vivem da planta. Não carrega o estigma de puritanismo da guerra às drogas que outros lugares têm.
Como a cannabis se desenvolveu para crescer em quase qualquer tipo de clima, diria que o mais importante é a cultura local. O homem tem evoluído com a planta, ela foi encontrada em tumbas com milhares de anos e é citada num manual médico chinês de 3.000 anos.

No fim do livro, agentes federais fazem uma série de apreensões e prendem um dos produtores mais legítimos, de acordo com o xerife local. Ainda assim, você acha que o fim da guerra à maconha está próximo. Por quê?
Acho que a guerra está ganha. A popularidade é crescente nas pesquisas, 56% dos americanos querem a regulamentação da cannabis. Não é mais questão de conservadores contra progressistas porque até mesmo americanos religiosos defendem o fim da guerra às drogas por estar aprisionando gente demais.
Os EUA têm a maior população carcerária do mundo. Sabe, você pode perder batalhas perto do fim e ainda assim ganhar a guerra. É difícil prever quando. Pode ser daqui a dois anos ou 20 anos. Tenho esperança de que algo aconteça no segundo mandato de Obama.

Mas o governo atual tem sido mais agressivo que o de George W. Bush na repressão contra a maconha medicinal. Por que ele mudaria?
Realmente a comunidade está furiosa com Obama.
Acredito que ele resolveu ignorar o caso no primeiro mandato, mas, quando era senador, afirmou que a guerra às drogas não funciona.
Ele sabe disso. Acredito que num possível segundo mandato ele vá tentar alguma manobra, como tirar a cannabis do Anexo 1 para o Anexo 2 da lei federal de substâncias controladas. Até cocaína e metanfetamina estão no Anexo 2 [substâncias que podem causar dependência e tem valor medicinal].
Até mesmo um juiz administrativo da DEA [agência federal antidrogas] afirmou em 1988 que é um absurdo a cannabis estar no Anexo 1 [substâncias altamente viciadoras e sem valor medicinal].

Dizer que a legalização salvaria a economia dos EUA parece exagero, e o nome do livro não ajuda na seriedade. Como tem sido a reação ao livro?
Não tenho recebido olhares esquisitos. Estive em Nova York para uma palestra para divulgar o livro e a média de idade do público era 70, 80 anos. Todo mundo entendeu que a guerra precisa acabar.
Maconha é a plantação número um dos EUA. Vivo num Estado conservador, no interior, com caubóis, e lá eles entendem também.

De onde vem essa conta de que maconha é a maior plantação dos EUA?
Há de US$ 6 bilhões a 8 bilhões sendo gerados só no pequeno condado de Mendocino por ano e te conto de onde tirei isso.
Em 2010, autoridades locais apreenderam 600 mil plantas que estimaram ser 10% da colheita total do condado [legal e ilegal]. Os produtores dizem que nem pensar, que deve ser apenas 1%.
Mas, se forem 10% mesmo, são 6 milhões de plantas que chegam ao mercado.
Se você considerar, por baixo, que cada planta dá uma libra de produto e que o preço mais baixo dado em anos recentes é US$ 1.000 por libra, você tem US$ 6 bilhões apenas em Mendocino, onde a receita das vinícolas é US$ 74 milhões.

Seu livro explica que é preciso "seguir o dinheiro" para entender como a legalização poderia salvar a economia, principalmente na produção industrial para comércio têxtil, de alimentos e energia. Acha que os ativistas deveriam mudar suas estratégias, já que estão mais focados na questão médica?
Cannabis industrial tem mais potencial economicamente do que seu uso medicinal ou social, e realmente poderia ser um elemento mais forte nas campanhas. É um absurdo que os Estados Unidos não estejam nesse mercado. A indústria de cannabis cresce 20% por ano no Canadá.
Eu e minha família usamos para um monte de coisas. Minha mulher faz roupa e usamos óleo da semente em nossos sucos no café da manhã todos os dias. Compramos os produtos nos EUA, mas é tudo importado, do Canadá.
Um condado da Califórnia votou e aprovou a legalização de produção industrial em 2011, mas o governador vetou por causa das leis federais.

Há 17 Estados que legalizaram maconha medicinal, mas as leis mudam em cada um. Em Los Angeles, autoridades reclamam que as lojas se multiplicam sem controle. O que dá para aprender com experiências ruins?
Sim, há uma proliferação, mas isso é demanda de mercado, as pessoas querem essa planta. A proibição é a causa dos problemas.
Reconheço que posso soar como uma líder de torcida, mas sou um jornalista sério. Claro, poderiam fazer regulamentações melhores, mas já temos sistemas que funcionam para álcool e vinícolas.
Acredito num modelo em que a cannabis fosse regulamentada para uso de adultos, como o álcool. E um sistema no qual o pequeno agricultor pudesse continuar a produzir, como acontecem com as cervejarias artesanais, sem ser engolido por gigantes.

Qual é a sua relação com maconha?
Sim, eu já usei a planta, acho que é um algo bom como aspirina, como álcool e que, como qualquer outra droga farmacêutica, não pode ser abusada.
Sou uma pessoa sóbria, sou pai. E sou também espiritualizado. Está no Gênesis, livro 1, capítulo 1, versículo 29: Deus nos deu todas as plantas e sementes para nosso uso, e não com exceção de alguma com a qual Richard Nixon teve problema.

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domingo, 26 de agosto de 2012

O diabo, o milionário e o santo

É impossível não enxergar nas três reportagens sobre religião da Record peças de um vale-tudo por fiéis

No intervalo de nove meses, o "Domingo Espetacular", da Record, exibiu três reportagens especiais de temática religiosa. Elas formam um conjunto de 130 minutos, mais do que um longa-metragem, e dizem muito sobre a confusão que reina numa emissora comercial comandada por líderes religiosos.

A primeira foi ao ar em 13 de novembro do ano passado. Por 39 minutos, o programa tratou de um fenômeno religioso, encontrado em diferentes práticas neopentecostais no Brasil, cuja característica mais notável é o desfalecimento de fiéis quando tocados por pastores.

Chamada de forma irônica de "cai-cai", a prática foi ridicularizada e demonizada em toda a reportagem. "O diabo usa o cair do espírito para cegar as pessoas", disse um homem apresentado como "fundador" da religião e que hoje a renega. "Isso não é Deus, é um esquema do diabo", alertou.

No dia 18 de março foi ao ar uma reportagem de 26 minutos sobre Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial, apresentado como "o apóstolo milionário".

"Durante mais de quatro meses, nossa equipe seguiu a trilha do dinheiro, que começa na doação dos fiéis e vai parar no bolso do novo criador de gado do Pantanal", disse o repórter Marcelo Rezende.

Ex-pastor da Igreja Universal, o religioso hoje é visto como um temido concorrente. "Para crescer rapidamente, Valdemiro ataca com violência a igreja à qual pertenceu, principalmente o bispo Edir Macedo", disse Rezende. "Hoje, esbanja uma vida de riqueza, com direito a aviões, helicópteros e carros de luxo."

Macedo, por sua vez, foi o foco da terceira grande reportagem. Exibida no dia 19 de agosto, alongou-se por 64 minutos, praticamente o tempo das outras duas somadas.

Janine Borba, apresentadora do programa, avisou: "Foram cinco meses de viagens ao redor do mundo para produzir a mais completa e impressionante reportagem já feita sobre um dos maiores movimentos cristãos da humanidade".

Diferentemente das acusações e ofensas ao "cai-cai" e a Valdemiro, este terceiro documentário só teve palavras elogiosas para Macedo, líder do "maior movimento de fé do Brasil".

Texto hiperbólico, trilha sonora típica e imagens fortes ajudaram a compor uma das mais impressionantes hagiografias já exibidas na televisão.

Houve, é verdade, breve menção à prisão de Macedo, em 1992, mas apenas com a intenção de reforçar o mito. "Ele foi absolvido de todas as acusações", disse o narrador, sem informar quais (a saber: "delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular").

A Record justifica as três "reportagens" sob o argumento do "interesse jornalístico". Nos dois primeiros casos, a emissora se valeu de denúncias públicas e investigações policiais ou judiciais. No terceiro caso, o "gancho" é a comemoração dos 35 anos da fundação da Universal, tema de um novo livro de Edir Macedo.

A duração e o tom das três matérias fazem pensar em algo diverso. O fato de Macedo ser, ao mesmo tempo, líder da Universal e proprietário da Record, sem dúvida, afeta o julgamento. É impossível não enxergar nos três trabalhos peças de um vale-tudo por fiéis, algo que deveria estar longe de ser o objetivo de uma emissora comercial no Brasil.

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Artistas protestam dentro e fora da Rússia

Além de apoio internacional, classe artística local defende o Pussy Riots e promete manifestações em shows

Pavlénski costurou a boca em performance contra censura; cantora Peaches liderou um protesto em Berlim

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MOSCOU

Além do crescente apoio de estrelas como Madonna, Sting, Beastie Boys e Faith No More, uma série de artistas russos tem feito barulho no país pela libertação das três garotas do coletivo feminista de punk rock Pussy Riots.

Os americanos do Antiflag regravaram "Virgem Maria, Mande Putin Embora!", trilha da performance que levou as garotas a julgamento.

Já os russos da banda eletro Bartó fizeram um remake de "Kisia Eres" (heresia de gato), outra canção do Pussy Riot, questionando o regime e a prisão das integrantes.

Gravado em julho deste ano, o tema marcou uma parceria da banda com os rappers do Trash Shapito Kach.

"Tudo é limitado na Rússia já há bastante tempo. Mas isso agora é totalmente inaceitável. Eles [a Igreja e o governo] estão se ferrando para essas meninas presas e julgadas", disse a vocalista do Bartó, Maria Liubitcheva. Há um clipe no YouTube (folha.com/no1137706)

"Se antes o presidente gozava de algum apoio, agora uma parte da população está repensando isso", completa.

Em junho passado, mais de uma centena de atores, cineastas, músicos e escritores assinaram uma carta aberta pedindo a liberdade das jovens.

Na mesma época, a diretora russa Olga Darfi chegou encapuzada ao tapete vermelho do Festival Internacional de Cinema de Moscou, em apoio ao coletivo.

Um dos signatários da carta, Dmítri "Sid" Spirin, vocalista da banda pop-punk Tarakani!, afirma que o julgamento é tão injusto que seria "desonesto" não apoiar a Pussy Riot.

O artista Piotr Pavlénski foi ainda mais radical: costurou a própria boca em protesto e, solitário, se postou na frente da Catedral de Kazan, em São Petersburgo. Para ele, a história do coletivo punk é o maior exemplo da deterioração da liberdade de expressão na Rússia.

"Alguns artistas aceitam essa censura e castram sua própria obra. Eu costurei minha boca para ressaltar o medo do artista diante da censura", disse Pavlénski.

NOVAS MORDAÇAS

O escândalo do Pussy Riots chamou a atenção do mundo para a aprovação de novas leis que podem restringir ainda mais as liberdades individuais na Rússia.

Uma delas, já promulgada em São Petersburgo, prevê penalidades para a "promoção do homossexualismo".

Sem especificar o termo "promoção", a lei é temida por artistas locais, que acreditam que a norma possa ser usada arbitrariamente para reprimir a produção de filmes, livros e arte em geral.

"[A lei] pode, claro, influenciar o trabalho dos profissionais da arte. Essa guerra contra os homossexuais também está relacionada ao ortodoxismo religioso radical que há aqui", explica o defensor dos direitos humanos Lev Ponomariov.

"É simplesmente risível que uma lei como esta seja aprovada no ano de 2012. Eu quero fazer um cover gay do Village People no meu próximo show em São Petesburgo e perguntar, ali do palco, se aquilo foi promoção de homossexualismo", reclama o vocalista do Tarakani!.(MARINA DARMAROS)

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Estado russo é totalitário contra arte, diz ativista

"Não é hora para os refinados, agora o artista deve sair às ruas." A frase é de Aleksei Plutzer-Sarno, 52, líder do Voiná, grupo de artistas de rua responsável por performances anárquicas como simular orgias em museus ou enforcamentos em supermercados. Leia entrevista com Sarno. (MD)

Folha - A censura sobre os artistas-ativistas piorou?
Aleksei Plutzer-Sarno - Sim, na Rússia todo mundo trabalha sob ameaça de prisão, espancamento pela polícia, prisão e morte. A censura é 100%.

Vocês apoiam o Pussy Riot? O que vocês acham do processo criminal contra elas?
Elas sem dúvida são presas políticas. A ação criminal contra elas é totalmente fabricada. Nós devemos ser solidários a elas. O governo tenta destruí-las moral e fisicamente. E, simultaneamente, assustar a todos os artistas de protesto restantes. Mas o Pussy Riot não cometeu nenhum crime. O governo enlouqueceu!

Em São Petersburgo agora existe uma lei contra a "propaganda gay". Você acha que isso pode limitar a arte?
A arte não pode ser limitada, ela simplesmente vai para o porão. Essas leis estão orientadas a destruir os direitos elementares do cidadão, aniquilando as liberdades para as mais diversas minorias, tanto intelectuais como nacionais e sexuais. É uma característica fundamental do totalitarismo.

Que outros instrumentos o Estado usa para limitar a arte?
Todos os meios padrão de um Estado totalitário burro: prisões, espancamentos, tortura, ameaças, interrogatórios, chantagens.
Os policiais quebraram a perna do ativista Filipp Kostenko, espancaram-no quase até a morte. Da nossa ativista Taissia Ossipova, interromperam o envio de medicamentos na prisão. Natália Sokol foi espancada por sete policiais na presença de seu advogado. Arrancaram os cabelos dela.
E algumas vezes eles simplesmente matam as pessoas na prisão, como fizeram com [com o advogado que descobriu um esquema de fraudes na restituição de imposto Serguêi] Magnítski.

Você acredita que a arte do Voiná e do Pussy Riot seria aceita em outros países?
Claro que seria. Arte sincera e forte é aceita em qualquer país, só que ela tem um estilo na Europa, outro na América. Os artistas devem considerar o contexto local, tradições e situação político-social. E temas críticos e de protesto existem em qualquer país.

O que fará o Voiná?
Mudamos as prioridades. As prisões estão cheias de presos políticos. O governo tornou-se totalitário. Estamos há um ano sob investigação federal. Iniciamos protestos de rua para atrair os meios de comunicação de massa. Quando a mídia acompanha o destino dos presos, eles têm chance de sair da prisão russa vivos. "Voiná vai ao resgate" é nosso novo slogan.

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no1137674

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domingo, 5 de agosto de 2012

A Fidelidade

As pessoas realmente frívolas são as que só amam uma vez na vida. O
que elas chamam lealdade ou fidelidade, chamo eu letargia do hábito ou
falta de imaginação. A fidelidade representa na vida emocional o mesmo
que a coerência na vida do intelecto, apenas uma confissão de
impotência. A fidelidade! Tenho de a analisar um destes dias. Está
intimamente associada à paixão da propriedade. Há muitas coisas que
atiraríamos fora se não receássemos que outros as apanhassem.

Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

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Vidal de A a Z

R DE RELIGIÃO "O grande e indecente mal que está no cerne de nossa
cultura é o monoteísmo. Três religiões anti-humanas se desenvolveram a
partir de um texto bárbaro da idade do bronze conhecido como o Velho
Testamento: o judaísmo, o cristianismo e o islã. São religiões de um
deus celeste. São patriarcais, e é essa a razão do ódio às mulheres ao
longo de 2.000 anos nos países que sofrem influência do deus celeste e
de seus representantes terrenos do sexo masculino. [...] Em última
análise, o totalitarismo é o único tipo de política que pode atender
os objetivos do deus celeste."

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Produzido por americanos nos anos 1970, documentário mostra abusos na ditadura

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA
Trêmulo, em um portunhol sofrível e visivelmente abalado, o frade
dominicano Frei Tito narra sua saga pelos porões da ditadura
brasileira. "Me torturaram por três dias seguidos. No terceiro, um
capitão de nome Albernaz [Benoni de Arruda Albernaz] me torturou por
20 horas. Recebi fortes pancadas, choques elétricos em todo corpo."

Ele prossegue: "No quarto dia, sabendo que voltaria para a tortura,
tentei a morte cortando o pulso, numa tentativa de pôr fim à tortura".

O relato, premonitório, é um dos depoimentos de presos políticos
reunidos em "Brasil - O Relato de uma Tortura", documentário produzido
para a TV americana há 40 anos para denunciar as violações aos
direitos humanos no regime militar brasileiro (1964-1985).

Depois de 40 anos, ele será exibido pela primeira vez na televisão
brasileira hoje, à 0h15, no Canal Brasil.

Produzido pelos cineastas americanos Haskell Wexler e Saul Landau
(Wexler foi diretor de fotografia de "Um Estranho no Ninho"), o
documentário retrata o "Grupo dos 70", presos políticos levados para o
Chile em troca da libertação do embaixador suíço no Brasil Giovanni
Enrico Bucher, o último diplomata sequestrado pela esquerda armada, no
final de 1970.

No Chile, Wexler e Landau produziam um documentário sobre o então
presidente Salvador Allende. Souberam dos brasileiros e gravaram as
entrevistas em janeiro de 1971.

Os próprios brasileiros encenam as práticas a que os presos foram
submetidos. Eram muitas: pau de arara, afogamentos, choques,
palmatórias e "pau de estrada", que consiste em amarrar os braços do
preso em um carro e as pernas em outro, cada um indo em uma direção.

A encenação do "pau de estrada" (veja cenas ao lado) foi feita pelo
chileno Jorge Mueller, assistente de câmera. Ironicamente, dois anos
depois, quando Augusto Pinochet depôs Allende, ele foi preso,
torturado e, consta, jogado ao mar. Mueller integra a lista dos
desaparecidos políticos chilenos.

Dos 70 brasileiros, 16 já morreram -alguns tragicamente, ao retornar
para a luta armada no Brasil. Três deles se mataram. Maria Auxiliadora
Lara Barcelos, que sofreu torturas sexuais, enforcamento e simulação
de fuzilamento, se jogou nos trilhos do metrô de Berlim em 1976.

Gustavo Buarque Schiller pulou do prédio em que vivia, em Copacabana, em 1985.

Frei Tito se matou enforcado no interior da França, em 1974. No
depoimento, ele resume aqueles anos: "A única coisa democrática no
Brasil é a tortura".

NA TV
Brasil - O Relato de uma Tortura
Estreia de documentário
QUANDO hoje, 0h15, no Canal Brasil
CLASSIFICAÇÃO não informada

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sábado, 4 de agosto de 2012

Sexo e vergonha

Contardo Calligaris


Os que consideramos maníacos sexuais são apenas os que praticam mais
sexo do que a gente

Imagine alguém que acaba sua noite com um sexo rápido e intenso, em
pé, embaixo de uma ponte, e eis que, uma vez em casa, ele entra na
internet e transa virtualmente com uma stripper de site on-line.
Não há gozo que lhe baste: sempre sobra a vontade de mais uma vez,
mesmo que seja se masturbando com esforço. Outra noite, depois de ter
brincado pesado com uma moça num bar, ele se pega com um cara no
labirinto de uma boate gay: na procura por mais sexo, vale tudo.
Mas cada rosa tem seus espinhos. O disco rígido do nosso jovem está
repleto de pornografia, até no computador do escritório -o que é
arriscado. E, sobretudo, ele está aflito: a vergonha o leva a jogar
fora (periodicamente) os apetrechos de sua sexualidade fantasiosa, e
ele sente culpa de não conseguir ser o irmão, o amigo -e, quem sabe, o
namorado- que ele talvez gostasse de ser.
Se esse alguém pedir ajuda a um terapeuta, alguns colegas tirarão da
manga o "diagnóstico" de sexo-dependência ("sexual addiction") e
proporão o programa em 12 passos (ensinado nas especializações em
sexo-dependência), para que o indivíduo aprenda a se controlar e a
renunciar, ao menos em parte, ao sexo, que teria se tornado, para ele,
uma espécie de droga.
Mesmo sem acreditar nos 12 passos, outros colegas concordarão com o
diagnóstico e simpatizarão com o "óbvio" sofrimento do
"sexo-dependente" -afinal, eles imaginarão, essa prática endemoniada
do sexo "deve", no mínimo, aviltar o indivíduo aos seus próprios
olhos.
Outros colegas ainda (e eu com eles), ao receber o pedido de ajuda de
um suposto sexo-dependente, reagiriam de maneira diferente: não se
preocupariam nem com as fantasias, nem com as práticas sexuais do
paciente, mas com a culpa e a vergonha que as acompanham.
Eu também anunciaria ao paciente que não sei (ninguém sabe)
disciplinar o desejo sexual; só posso, se ele quiser, tentar
disciplinar a culpa e a vergonha que azucrinam sua vida e estragam
seus prazeres.
Quem viu "Shame" (vergonha), de Steve McQueen, percebeu que nosso
paciente hipotético se parece com o protagonista do filme.
Em cartaz desde sexta passada, "Shame" é, ao mesmo tempo, ousado e
careta. Ousado, pelo retrato da procura sexual do protagonista
(muitos, sem dúvida, se reconhecerão), e careta, porque essa procura
parece ser necessariamente doentia, culpada e vergonhosa.
Concordo com Cássio Starling ("Ilustrada" de 16/3): o filme é ótimo,
mas discordo do destaque do artigo, segundo o qual "McQueen foge do
moralismo ao abordar a compulsão por sexo". Quem enxerga o desejo
sexual do outro como uma patologia é sempre moralista. Em matéria de
sexo, patologizar é o jeito moderno de estigmatizar e policiar
(conselho: fuja de parceiros que acham você "doente").
McQueen (na mesma "Ilustrada") declarou que o negócio dele é desafiar
as pessoas. Ora, apresentar um obcecado por sexo como um doente que
sofre de vergonha e culpa, isso não é desafio algum -ao contrário, é a
confirmação de um lugar-comum.
Um lugar-comum confirmado por psiquiatria e psicologia? Nem isso.
Certo, desde o século retrasado, a psiquiatria e a psicologia são
regularmente chamadas a substituir a religião, que (digamos assim)
cansou de ser a grande ordenadora e controladora do comportamento
humano. No caso, a ideia da "sexo-dependência" surgiu nos anos 1970
-provavelmente, como reação contra o interesse "excessivo" pelo sexo
durante a dita liberação sexual dos anos 1960.
Mas, sentindo talvez o bafo do moralismo, muitos psiquiatras e a
psicólogos receberam essa categoria diagnóstica com desconfiança. Quem
a adotou e promoveu foram a imprensa e o grande público (e isso bastou
para que surgisse uma pequena indústria de clínicas, programas
universitários etc.). Mas por quê, então, esse sucesso popular da
"sexo-dependência", na qual McQueen parece acreditar?
Apenas uma constatação: a associação de sexo com vergonha e culpa é um
bordão cultural muito antigo, no qual somos convidados a acreditar por
todo tipo de poder. A exigência de domesticar o desejo sexual parece
ser, aos olhos de todos, um pré-requisito básico de qualquer ordem
social.
Além disso, há a eterna inveja dos reprimidos: como dizia Alfred
Kinsey, em regra, os que consideramos doentes e maníacos sexuais são
apenas os que praticam mais sexo do que a gente.

Artigo da Folha de São Paulo- Ilustrada

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Feira do Livro de Frankfurt traz evento a SP

A partir de terça, a entidade reunirá 33 palestrantes de países como
Colômbia, Índia e Reino Unido na conferência Contec-Brasil, sobre
tecnologia, cultura e alfabetização. O evento, no auditório
Ibirapuera, em São Paulo, tem inscrições gratuitas.

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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Não podemos pagar 'no escuro' pelo salário dos nossos servidores públicos

CLAUDIO WEBER ABRAMO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A EXIBIÇÃO DE DIFERENÇAS SALARIAIS MARCANTES SERVE PARA EVIDENCIAR
FAVORECIMENTOS INDEVIDOS

Em condições normais, ninguém paga uma conta sem saber o que está
pagando. Até a promulgação da lei de acesso à informação, as condições
no Brasil não eram normais quanto a isso, em particular no que se
refere aos salários dos funcionários públicos. Pagávamos no escuro.

A nova regulamentação traz o assunto à normalidade. Não é esse o
entendimento de muitas associações e sindicatos de servidores
públicos. Tais entidades têm procurado frustrar o direito de
informação do contribuinte com base em dois argumentos: a divulgação
violaria a privacidade dos servidores; além disso, colocaria em risco
a sua segurança.

Nada disso se sustenta.

Em primeiro lugar, funcionários públicos não gozam dos mesmos direitos
relativos à privacidade que cidadãos privados.

Não apenas salários, mas outras informações a respeito da vida
funcional dizem respeito ao seu papel como servidores do público, ou
seja, nossos empregados. Não faz sentido que eles nos escondam
qualquer informação relativa ao seu desempenho.

Quanto ao argumento da segurança, é pueril, uma vez que a atenção de
criminosos não é despertada por listas, mas pelos hábitos de vida de
seus alvos: o tipo de comércio que frequentam, automóveis que dirigem,
as casas em que vivem etc.

As entidades que têm contestado a divulgação dos salários pagos a
servidores públicos descumprem a sua principal obrigação, que é
defender os interesses de seus associados.

Afinal, a exibição de diferenças salariais marcantes entre
funcionários que exercem atividades semelhantes e que tenham
percorrido carreiras parecidas serve, entre outras coisas, para
evidenciar favorecimentos indevidos.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor executivo da Transparência Brasil

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8 coronéis da PM receberam mais de R$ 50 mil em junho

Teto salarial do serviço público é de R$ 26,7 mil; Alckmin recebeu R$ 14.019,84

Militar recebeu mais de R$ 254 mil no mês; total inclui salário e
outros benefícios, como indenização e férias

ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
Apenas oito coronéis da Polícia Militar de São Paulo receberam juntos,
em junho deste ano, R$ 773,5 mil de pagamento do governo estadual,
entre salários e benefícios.

Os vencimentos líquidos desses oficiais variaram de R$ 51.689,33 a R$
254.099,57.

O valor pago a cada um deles ultrapassa o teto do serviço público, de
R$ 26,7 mil. Também supera o que o governador Geraldo Alckmin (PSDB)
recebeu no mês: R$ 14.019,84, com descontos.

Um soldado em início de carreira na capital ganha, em média, R$ 2.530 por mês.

Há uma semana, por causa da lei de transparência assinada em maio pela
presidente Dilma Rousseff (PT), a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) passou
a divulgar no Portal da Transparência Estadual
(www.transparencia.sp.gov.br) os vencimentos dos servidores do Estado.

Os valores pagos em junho podem incluir benefícios como férias,
adiantamento do 13º salário e indenizações, "além de benefícios
acumulados ao longo de uma carreira", diz nota da secretaria.

Salários acima do teto, de acordo com o governo, só são pagos por
ordem judicial.

O policial mais bem pago em junho foi o coronel da PM Ailton Araújo
Brandão, que recebeu R$ 254.099,57. A Secretaria da Segurança Pública
não explicou como foi possível chegar a esse valor -o governador pediu
que o caso do coronel fosse averiguado.

No site, estão os salários de todos os servidores da área da Segurança
Pública, como os dos 166 delegados de classe especial da Polícia
Civil, o topo da carreira no Estado.

Em junho, Oswaldo Arcas Filho foi o delegado de classe especial que
recebeu o maior vencimento líquido:

R$ 20.609,39. A Folha tentou ouvir os dois policiais, mas a assessoria
da secretaria não atendeu a esse pedido.

'RISCO DESNECESSÁRIO'

Para o delegado George Melão, presidente do Sindicato dos Delegados de
Polícia de São Paulo, a exposição dos salários dos policiais pelo
governo tem dois lados: "a comprovação da disparidade entre o que
recebem policiais militares e civis e a exposição desnecessária dos
servidores da segurança pública".

A Associação dos Cabos e Soldados da PM afirmou que não ia comentar a
disparidade entre os salários pagos aos praças e aos oficiais por se
tratar de "assunto interno".

Posted via email from franciscoripo

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